A polícia do Irã deteve dezenas de opositores após os violentos protestos ocorridos neste sábado (13) em Teerã (capital), contra a reeleição do presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad.
Entre os detidos --todos seguidores do candidato derrotado, o reformista e ex-primeiro-ministro Mir Hossein Mousavi-- estão algumas pessoas que tiveram cargos importantes no governo do ex-presidente Mohammad Khatami, incluindo o irmão dele, Mohammad Reza Khatami.
Vahid Salemi/AP |
Manifestantes protestam no centro de Teerã contra resultado de eleição que deu vitória ao presidente Mahmoud Ahmadinejad |
Além disso, foram levados para a prisão os jornalistas pró-reformistas Mustafa Tayezadeh e Dehzad Nabavi, e os políticos da mesma tendência Amin Sadeh e Said Shariati.
Alguns veículos de imprensa locais e estrangeiros, como o jornal americano "The New York Times", afirmam que o próprio Mousavi estava detido em sua residência, mas a informação foi negada por sua mulher, Zahra Rahnavard. "Ele está acompanhando os assuntos da eleição, e disse que está com o povo e ao lado dele", disse.
A maioria dos presos estava no escritório do ex-presidente Khatami --que apoia Mousavi-- no dia da eleição. O local foi atacado por bombas de fumaça por membros do grupo islâmico Basij no bairro de Queitarieh (norte da capital).
Os detidos são acusados de incitar os protestos que tomaram conta das ruas de Teerã ontem após o resultado oficial da eleição iraniana.
Veja abaixo diagrama sobre a divisão de poder do Irã
Ahmadinejad recebeu 62,6% dos votos, enquanto Mousavi, que foi primeiro-ministro na década de 80 e se tornou um herói do movimento de jovens que buscam mais liberdade e uma face mais suave do Irã no exterior, teve 33,75%.
O candidato derrotado disse ontem que a reeleição de Ahmadinejad é uma "piada perigosa", e afirmou que não irá se render "a essa manipulação".
Tensão
Segundo Mousavi, a vitória de Ahmadinejad "põe em perigo os pilares da República Islâmica e irá estabelecer a tirania".
Em entrevista coletiva na sexta-feira (12), Ali Akbar Mortazaminpour, que trabalhou no comitê de Mousavi como encarregado de fiscalizar a apuração, disse que "os erros" cometidos não são "símbolo da democracia iraniana".
Mortazaminpour afirmou que faltaram cédulas em várias seções --apesar de terem sido impressas pelo menos cinco milhões a mais que o necessário-- e que representantes dos candidatos tiveram dificuldades para trabalhar.
Autoridades do Ministério do Interior rejeitaram as acusações de fraude e o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, pediu aos iranianos que apoiem Ahmadinejad.
Após os violentos distúrbios de ontem, partidários da oposição voltaram às ruas neste domingo nas cidades de Tabriz, Orumieh, Hamedan e Rasht.
Em Isfahan, a polícia prendeu estudantes da Universidade de Sanati depois que eles atearam fogo em equipamentos e móveis.
Ontem, em Teerã, a polícia enfrentou manifestantes que se espalhavam pela capital com cassetetes. Alguns partidários da oposição chegaram a atear fogo em pneus em ruas e avenidas, bloqueando o tráfego.
Real e livre
Em uma entrevista coletiva concedida hoje, Ahmadinejad disse que sua reeleição foi "real e livre" e não pode ser questionada. "A eleição [da última sexta-feira] irá aumentar o poder da nação em seu futuro", disse.
Muitos jornalistas iranianos parabenizaram Ahmadinejad pela vitória antes de fazer suas perguntas. Quando questionado sobre as alegações de irregularidades, o presidente afirmou que elas não são importantes.
"Alguns acreditavam que iriam vencer, e então ficaram zangados. Isso não tem credibilidade legal. É parecido com os sentimentos depois de uma partida de futebol, e não são importantes do meu ponto de vista", afirmou. "A diferença entre meus votos e os dos outros é muito grande e ninguém pode questionar isso."
Ahmadinejad também acusou a imprensa internacional de lançar uma "guerra psicológica" contra o país.
arte Folha Online/arte Folha Online | ||
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