Parada desfila na contramão sem trios de boates gays

Pela primeira vez em 13 edições, a parada gay de São Paulo desfila hoje pela contramão da avenida Paulista e sem os tradicionais trios das boates GLS.

A mudança no fluxo dos carros de som do evento, que neste ano trafegam na pista sentido Paraíso, decorre das obras do metrô na esquina da rua da Consolação, que fechou a quadra a partir da rua Bela Cintra.

Como a acesso à Consolação pela pista contrária é uma curva acentuada para esquerda, os organizadores construíram uma rampa provisória para facilitar a manobra dos trios à direita. O custo, pago pela parada gay, foi estimado em R$ 50 mil.

"A rampa vai ultrapassar a ilha de pedestres e o trio segue na mão direita da rua da Consolação, não há nada de extraordinário", diz Manoel Zanini, diretor-geral da parada gay.

A rampa, feita de massa asfáltica, mesmo material usado para fazer lombadas, deve ser retirada logo após a passagem do último carro da parada, que deve cruzar o trecho às 16h.

A associação da parada gay diz que aumentará o número de seguranças em cada trio elétrico e montará uma equipe no local da rampa para auxiliar a passagem dos carros de som.

Arco-íris cinza

Discordâncias sobre cachê fizeram as boates gays saírem do evento neste ano. A debandada, dizem os frequentadores, pode tirar o brilho da parada e deixar a bandeira do arco-íris, símbolo do movimento gay, em preto-e-branco.

É que a associação da parada gay cobra R$ 10 mil de taxa de inscrição e mais R$ 5.000 para cada marca comercial exibida nos trios, ao passo que isenta entidades como a CUT e sindicatos de classe, como a Apeoesp (dos professores estaduais).

No final, com o aluguel de equipamentos, contratação de DJs, decoração, bebidas, segurança, o custo para as boates gays saía em R$ 60 mil. No ano passado, seis trios elétricos de casas noturnas desfilaram.

"Isso para nós não significa ser diferente. As casas noturnas têm livre decisão de participar ou não da parada. Existe uma grande diferença entre uma organização social e uma empresa privada", afirma Zanini, o diretor-geral da parada.

"Um dos motivos que levaram os clubes a não participar é que o custo é muito alto. Já investimos nas festas, com atrações e tudo mais. Fica muito caro, não dá", diz André Almada, um dos donos da The Week, a maior boate gay de São Paulo.

Neste ano, algumas exigências da organização mostram que o clima será mais de ativismo político do que de badalação. Diferentemente dos desfiles anteriores, foi proibido contratar cantores ou usar microfone nos trios. A CUT e demais sindicatos têm um minuto de fala para reivindicações.

A cada meia hora, o som eletrônico será interrompido para a execução do jingle "Sem Homofobia, Mais Cidadania. Pela Isonomia dos Direitos", tema da festa neste ano.

"A melhor forma de os empresários apoiarem a parada não é estar nela, é oferecer o melhor serviço para quem vem à cidade. É isso que faz as pessoas virem", completa Almada.

O gerente de vendas argentino Alfredo Anachuri, 28, que fica seis dias em São Paulo e pagou R$ 2.000 pela viagem, diz porque veio de Buenos Aires: "Se houvesse somente a parada eu não viria, vim pelas festas e para visitar os amigos".